Então ele não resistiu e olhou mais uma vez pela janela do ônibus. Ela não estava lá. Melhor que fosse assim. Uma lembrança amarga a menos. Lembrou-se do fatídico dia em que acordou e se olhou no espelho todo espantado ao perceber que já não sabia mais quem era. Saíra para um breve passeio fora de si e quando percebeu os anos o haviam aprisionado a uma vida absurdamente perfeita e artificial. Quase como estar morto sem ter morrido. O que pode deixar um homem mais cansado e desesperançado que a sensação extrema de paz e tranqüilidade?
Sempre apegado aos pequenos detalhes, reparou nas pessoas lá fora, será que elas realmente sabem para onde estão indo? Sentiu-se melhor por acreditar não ser o único a estar perdido, saindo de lugar nenhum para chegar não se sabe onde. Fechou a cortina. Colocou os fones no ouvido e deitou o banco ao máximo.
Novos sonhos eram necessários, sempre são. Ou os sonhos te acompanham e crescem junto com você ou tem de ser trocados de vez em quando. Depois afastou o que era seu e também o que só parecia, pois já não lhe interessavam. Restaram apenas seus sentidos e uma liberdade deliciosamente perturbadora. Não haveria outro caminho? Ser devorado por um sonho é terrível pensou ele desejando nunca mais passar por tal coisa. Esse era o caminho.
Refez seus planos mentalmente, na verdade era tudo bem simples: dessa vez o plano sou eu. O jovem que sonhava em mudar o mundo estava de volta.
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