"Em França, o documento A base comum dos conhecimentos e competências (Decreto de 11 de Julho de 2006) propõe-se recensear tudo o que é indispensável dominar no final da escolaridade obrigatória. Está organizado em sete secções: domínio da língua materna, prática de uma língua estrangeira, principais elementos de Matemática e da cultura científica e tecnológica, domínio das técnicas de informação e comunicação, cultura humanista, competências sociais e cívicas e autonomia e iniciativa. Cada uma destas secções está dividida em três partes: conhecimentos, capacidades e atitudes.
Dado o ataque ideológico de que tem sido alvo, é à partida de saudar o aparecimento da palavra “conhecimentos” no título - a par das ubíquas “competências” - e que lhe seja dedicada um capítulo em cada secção. Esse entusiasmo desaparece porém rapidamente quando percebemos que por conhecimentos se entende por exemplo saber:
“que o Universo, a matéria e os organismos vivos estão mergulhados numa multitude de interacções e de sinais, principalmente luminosos, que se propagam e agem à distância.”
“que o planeta Terra apresenta uma estrutura e fenómenos dinâmicos internos e externos.”
“que a matéria se apresenta numa multitude de formas, organizadas do inerte ao vivo.”
“que as características do vivo são:
(1) a sua unidade de organização (célula) e a biodiversidade;
(2) as diferentes modalidades de reprodução dos seres vivos;
(3) a sua unidade (ADN) e a evolução das espécies.
“que os equipamentos informáticos (físicos, programas e serviços) trabalham com informação codificada com o intuito de produzir resultados e podem comunicar entre si.”
“que a energia (perceptível no movimento) pode apresentar-se sobre várias formas; é necessário conhecer a energia eléctrica e a sua importância; é necessário conhecer as reservas em energias fósseis e as energias renováveis.”
Este último ponto revela bem o que se passa, para além do facto notório do documento ter sido redigido por ignorantes que num belo dia se viraram para as Ciências da Educação com o intuito de culpar a Escola pela sua própria preguiça de estudar. O conceito físico de energia (a tal que é “perceptível no movimento”) não é interessante em si, nem tão-pouco parecem os autores saber do que se trata. O que é relevante na formação dos futuros cidadãos é a “importância da energia eléctrica” e a diferença entre “energias” fósseis e renováveis. Por essa razão misturamos todas estas energias num único ponto, o que constitui, saibamos reconhecê-lo, um exercício de grau de dificuldade extremamente elevado. Na mesma ordem de ideias, eis um outro conhecimento que deve ser adquirido antes do término do ensino obrigatório:
“saber que o domínio progressivo da matéria e da energia permitem ao Homem elaborar uma grande diversidade de objectos técnicos, de que convém conhecer as condições de utilização, o funcionamento e as regras de segurança.”
É simultaneamente triste e deplorável que um país com o passado científico da França apresente um texto oficial deste teor. Não restam dúvidas de que a tentativa de destruição progressiva e sistemática da transmissão de conhecimentos ao nível da Escola não é um fenómeno português. Antes o fosse, haveria então alguma esperança de que o processo pudesse ser travado no nosso país. Este é na verdade um fenómeno global. Pela primeira vez desde há muito tempo corremos o genuíno risco de ver aparecer no ocidente uma geração bem mais ignorante do que a anterior".
via
http://dererummundi.blogspot.com/
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