sábado, 29 de janeiro de 2011

Clarice

C:\Users\Tânia\Desktop\clarice.jpg


FERIDAS

Mesmo para os descrentes há a pergunta duvidosa: e depois da morte? Mesmo para os descrentes há o instante de desespero: que Deus me ajude. Neste mesmo instante estou pedindo que Deus me ajude. Estou precisando. Precisando mais do que a força humana. E estou precisando de minha própria força. Sou forte mas também destrutiva. Autodestrutiva. E quem é autodestrutivo também destrói os outros. Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que não tenho ido a Ele. Venha, Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha. Ou talvez os que menos merecem precisem mais. Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e continuo inquieta e infeliz, é porque preciso que Deus venha. Venha antes que seja tarde demais.



LISPECTOR. Clarice, 1925 – 1977
A Descoberta do Mundo: Deus
Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p 75


via
http://yaagob.blogspot.com/

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Adição





via
http://momentosescritospormim.blogspot.com/
Instruções:

1: Vai à Wikipédia e carrega em "artigo aleatório". O primeiro artigo da Wikipédia que aparecer é o nome da tua banda.

2: Vai a quotationspage.com e carrega em aleatório (random). As últimas 4 ou 5 palavras da última citação da página serão o Título do Álbum.

3: Vai ao website flickr e clica em "explore the last seven days" no final da página. A terceira imagem, independentemente do que for, será a capa do teu Álbum!

4: Usa Photoshop ou software semelhante ( podes usar picnik.com que é um programa de edição à borla e online ) para juntar tudo

5: Posta a imagem com o texto e (identifica amigos).




Dá resultados mesmo engraçado por ser aleatório! Não façam como algumas pessoas que eu cá sei, que mudaram a imagem ou assim porque "ficava mal"..a piada é essa -.-


Quem quiser fazer, força =)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Somos todos um

http://www.youtube.com/watch?v=x-jzP0nsZEY&feature=related


Robert Happé nasceu em Amsterdão, Holanda. Estudou religiões e filosofias na Europa e dedicou-se desde então a descobrir o significado da vida. Estudou também Vedanta, Budismo e Taoísmo no Oriente durante 14 anos, tendo vivido e trabalhado com nativos de diferentes culturas de cada região onde esteve - Índia, Tibete, Cambodja e Taiwan.

Em seu retorno à Europa, sentiu necessidade de compartilhar o conhecimento adquirido e suas experiências de consciência. A partir daí, trabalhou em várias universidades, e tem trabalhado continuamente com grupos de pessoas interessadas em autoconhecimento e desenvolvimento de seus próprios potenciais como seres criadores.

Desde 1987 vem compartilhando informações em forma de seminários e workshops em países da Europa, na África do Sul, nos EUA, na Austrália, e no Brasil.

Seu trabalho é independente, estando desvinculado, sob todo e qualquer aspecto, de organizações religiosas, seitas, cultos e outros grupos.

http://www.roberthappe.net/

Somos todos UM



http://www.youtube.com/watch?v=QlpB3PKZ9pU&feature=player_embedded#!


http://www.youtube.com/watch?v=tqfvUA2vRAM


http://www.youtube.com/watch?v=9piIziXU9RE


http://en.wikipedia.org/wiki/Floyd_Red_Crow_Westerman


http://en.wikipedia.org/wiki/Oren_Lyons

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

The Best Thing

Adorei a nova música do Ricky Martin -- The Best Thing About Me Is You Ele canta a IGUALDADE! Lindo


sábado, 8 de janeiro de 2011

Sermão da Montanha

Não tente, assim de repente, andar em linha recta. A coisa não vai funcionar. Não tente, amigo, nem pense que a recta leva ao destino, que a recta é o caminho. A recta só é certa para quem não sai da linha, para quem acredita que a vida é um comboio, desses que têm maquinista, que têm controlo, que têm limites, que têm travões, que têm sentido.

Ande torto, rapaz! Ordenei-me com tal valentia que até pensei que de uma voz divina se tratava. Imaginei que Random, deus grego do aleatório, havia descido outra vez à Terra, dessa feita só para me alertar: "Vá ser gauche, como Vinicius e Drummond."

O erro da recta como proposta de vida ocorreu-me esta semana, no cimo do Morro do Pai Inácio, um tabuleiro gigante de rocha, com mais de 1100 metros de altura, na Chapada Diamantina, interior da Bahia. Há pouco mais de 20 anos estive a olhar o mesmo horizonte que o Pai Inácio proporciona. Digo o mesmo, pois o que são 20 anos no relógio de uma montanha?

A minha primeira incursão na Chapada foi pouco antes de eu decidir ir ("vir?", já não sei o certo) viver em Portugal. Naquela época, eu tentava escrever na pedra os meus planos e pensava que indo sempre em frente, seguindo a direcção apontada pelo meu nariz, não correria o risco de tombar com as minhas costas. A juventude é um poço infinito de ingenuidade.

Indo recto, cheguei, incrivelmente, ao mesmo ponto de partida. Quase consegui me ver mais moço, sentado no alto daquele penhasco, admirando o pôr do Sol. E quem vê isso, como numa cena de "Inception", sou eu mesmo, quase idoso, sentado no alto de um penhasco a admirar o pôr do Sol. Entre os dois momentos (e os dois homens) houve aquilo a que eu poderia chamar de existência, um confuso recheio de momentos, pessoas, actos e atitudes, um bolo que por vezes cheirou a mofo e outras a alecrim e a canela.

Desço o Pai Inácio em meio a algumas dezenas de jovens, plenos de sorrisos e sardas. Em vez de melancólico com a revelação do erro da recta, sinto-me revigorado e com imensa vontade de bradar ao gentio (ou postar no Facebook, o que dá mais ou menos no mesmo) a notícia: amigos, sejam mais tortos, para serem menos mortos. Procurem caminhos torcidos. Desconfiem dos certos. Fujam dos sem arestas, dos sem espinhos, dos sem espigas, dos sem espetos, dos perfeitinhos. Mas, sobretudo, não andem em linha recta.

Ou como diria o meu Tio Olavo, citando Pessoa: "Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugná-la-íamos, se a tivéssemos. O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito."


Partilhas da semana

Sermão da Montanha
As belezas da Chapada Diamantina serviram de inspiração para um já bem velhinho anúncio brasileiro. Mas há coisas que, de tão boas, não ficam datadas. A Chapada está igual e o belo texto do vídeo recorda algo muito importante: há vida lá fora. (No YouTube: "Comercial Antigo Montanha da Samello")



Olhò passarinho
Se quiser ver algumas fotos que fiz da Chapada, basta ir ao http://picasaweb.google.com/oendireita/ChapadaDiamantina1#
ou
http://picasaweb. google.com/oendireita/ChapadaDiamantina2#

Só importa o que fica nos nossos corações

A amizade, pensava eu – e tu, que andaste mais pelo mundo fora, certamente sabes mais e melhor que eu, aqui na minha solidão campestre - , é a relação humana mais nobre que pode haver entre os seres vivos humanos. É curioso, os animais conhecem-na bem também. Existe amizade, altruísmo, solidariedade entre os animais. Um príncipe russo escreveu sobre isso… já não me lembro do nome dele. Há leões e galos bravos, criaturas de todo o género que tentam socorrer os da sua espécie que se vêem em apuros, sim, vi com os meus próprios olhos que, às vezes, ajudam também aos animais de outra espécie. (…).
Entre pessoas, vi menos exemplos. Para ser mais exacto, não vi nenhum. As simpatias que vi nascer entre pessoas diante dos meus olhos, acabaram sempre por se afogar nos pântanos do egoísmo e da vaidade. A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas fogem da solidão, entrando, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas de que essa intimidade é uma espécie de amizade. Naturalmente, nesses casos não se trata de verdadeira amizade. Uma pessoa imagina – e o meu pai entendia as coisas dessa maneira – que a amizade é um serviço. O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal? E se um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quando vale aquela amizade, em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança? Quanto vale qualquer afecto que espera recompensa? Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel? Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humanas, esse altruísmo que não quer nada nem espera nada, absolutamente nada do outro? E quanto mais dá, menos espera em troca?(…)
Vês, dediquei-me a essas questões teóricas quando fiquei sozinho. Naturalmente, a solidão não me deu resposta. Nem os livros deram resposta perfeita. Nem os livros antigos, os estudos dos pensadores chineses, hebreus e latinos, nem os modernos que falam sem rodeios, mas dizem sobretudo palavras e não a verdade.(...)


No fim, o mundo não importa nada. Só importa o que fica nos nossos corações.
- Que é que fica – pergunta o convidado – nos nossos corações?...
- A outra pergunta – responde o general. E não solta a maçaneta da porta. – A outra pergunta resume-se em saber o que ganhámos com toda a nossa inteligência, orgulho e superioridade? A outra pergunta é, se não tivesse sido aquela atracção penosa por uma mulher que morreu, qual teria sido o verdadeiro conteúdo da nossa vida? Sei que é uma pergunta difícil. Eu não sei responder-lhe. Vivi tudo, vi tudo e não sei responder a essa pergunta. Vi paz e guerra, vi miséria e grandiosidade, vi-te cobarde e vi-me a mim mesmo vaidoso, vi luta e concordância. Mas no fundo, o significado da vida e das nossas acções talvez tenha sido esse laço que nos uniu a alguém – laço ou paixão, chama-lhe o que quiseres. Essa é a pergunta? Sim, é essa. Gostava que me dissesses – continua tão baixo como se tivesse medo de que alguém estivesse atrás das suas costas ouvindo as suas palavras -, qual é a tua opinião sobre isso? Pensas também que o significado da vida não seja outro senão a paixão, que um dia invade o nosso coração, a nossa alma e o nosso corpo, e depois arde para sempre, até à morte? Aconteça o que acontecer? E que se nós vivemos essa paixão, talvez não tenhamos vivido em vão? É assim tão profunda, tão maldosa, tão grandiosa e desumana a paixão?... E talvez não se dirija a uma pessoa em concreto, mas apenas ao desejo mesmo?... Essa é a pergunta. Ou dirige-se a uma pessoa em concreto, desde sempre e para sempre à única e mesma pessoa misteriosa, que pode ser boa ou má, mas cujas acções e qualidades não influenciam a intensidade da paixão que nos une a ela? Responde, se sabes responder – diz mais alto e insistente.
- Porque é que me perguntas? – replica o outro tranquilamente. – Sabes que é assim. (...)
"


- in "As velas ardem até ao fim", de Sándor Márai -

http://serendipity714.blogspot.com/

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Face de Jano

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXG6j7NL2YqDEXZdtr8KtO90A0BfpxSHZ_kRZewUkHhEAFJG7XJCMJjAYJiV6IbxzpmpVH6zM8xXN8weI_KBrJrYlyzncKw6Yr4nIzmCBDUM44wVKLAsPVCLSaBfaGgWcNtGemMxWmJIDh/s1600-h/20050917122925!Janus-Vatican.JPG


Janeiro - um mês em honra de um deus
"Agora que começou mais um ano, não poderia evitar de fazer um pequeno texto sobre as festividades e celebrações associadas à mudança de ano. Hoje estas comemorações estão, tendencialmente, desligadas de qualquer religiosidade ou sentimento espiritual, sendo para a maioria uma comemoração laica relacionada com a organização o calendário civil. É um marco, um modo de nos organizarmos social e pessoalmente, servindo também para celebrar o facto de estarmos bem e de saúde ou para concretizar o depositar esperanças para um bom ano - ou um ano melhor!

No entanto, a génese da festa é de cariz místico/religioso. Estas celebrações tinham uma função religiosa, mas numa vertente muito pragmática. No fundo, celebrações e cultos desta natureza - como na maioria dos casos - , apesar de baseadas em histórias inverossímeis ou mitologias, cumpriam o seu papel de organização social e davam resposta às necessidades pessoais dos indivíduos que as praticavam. Felizmente hoje temos opção, podemos retirar o que é acessório e simplesmente usufruir dos benefícios mais agradáveis destas tradições antiquíssimas: as festas. Podemos fazê-lo sem com isso sermos obrigados a acreditar em acontecimentos mitológicos ou seguir ritos e rituais desprovidos de sentido, no fundo uma aculturação estritamente relacionada com a liberdade individual.
É pela convicção da extrema utilidade social das celebrações da “passagem de ano”, tanto para ateus como para religiosos, considerando ou não a sua génese religiosa, que dedico algumas palavras a este tema, apresentando aqui o motivo para o nome do primeiro mês do ano e a origem de algumas das primeiras celebrações conhecidas desta data.
Uma possível origem destas celebrações ocidentais está relacionada com o deus romano Jano - deus das passagens, das portas, dos cruzamentos, aberturas, das transições, dos inícios e dos viajantes que atravessavam fronteiras. Jano era representado numa forma humana mas com duas caras numa mesma cabeça, dispostas em sentidos opostos. Em algumas representações uma face era jovem - associação ao futuro - e a outra idosa - associação ao passado. Esta disposição de faces simbolizava a mudança do antigo para o novo e a estrita relação entre o que passou e o que virá. Outras representações de Jano não distinguem as duas faces, ambas podiam ser perfeitamente iguais e simétricas (provavelmente por questões estéticas). Jano podia ser também representado por objectos, mais concretamente duas chaves - um símbolo hoje patente no brasão do Vaticano, modificado e associado a S. Pedro e às portas do Paraíso.
No entanto, a génese da festa é de cariz místico/religioso. Estas celebrações tinham uma função religiosa, mas numa vertente muito pragmática. No fundo, celebrações e cultos desta natureza - como na maioria dos casos - , apesar de baseadas em histórias inverossímeis ou mitologias, cumpriam o seu papel de organização social e davam resposta às necessidades pessoais dos indivíduos que as praticavam. Felizmente hoje temos opção, podemos retirar o que é acessório e simplesmente usufruir dos benefícios mais agradáveis destas tradições antiquíssimas: as festas. Podemos fazê-lo sem com isso sermos obrigados a acreditar em acontecimentos mitológicos ou seguir ritos e rituais desprovidos de sentido, no fundo uma aculturação estritamente relacionada com a liberdade individual.
É pela convicção da extrema utilidade social das celebrações da “passagem de ano”, tanto para ateus como para religiosos, considerando ou não a sua génese religiosa, que dedico algumas palavras a este tema, apresentando aqui o motivo para o nome do primeiro mês do ano e a origem de algumas das primeiras celebrações conhecidas desta data.
Uma possível origem destas celebrações ocidentais está relacionada com o deus romano Jano - deus das passagens, das portas, dos cruzamentos, aberturas, das transições, dos inícios e dos viajantes que atravessavam fronteiras. Jano era representado numa forma humana mas com duas caras numa mesma cabeça, dispostas em sentidos opostos. Em algumas representações uma face era jovem - associação ao futuro - e a outra idosa - associação ao passado. Esta disposição de faces simbolizava a mudança do antigo para o novo e a estrita relação entre o que passou e o que virá. Outras representações de Jano não distinguem as duas faces, ambas podiam ser perfeitamente iguais e simétricas (provavelmente por questões estéticas). Jano podia ser também representado por objectos, mais concretamente duas chaves - um símbolo hoje patente no brasão do Vaticano, modificado e associado a S. Pedro e às portas do Paraíso.
Os antigos romanos contavam com a bênção de Jano no inicio de cada dia, mês e ano, sendo que a maior das festividades era no primeiro dia do novo ano, dia esse que foi sendo alterado conforme se iam mudando também os calendários.
O dia 1 de Janeiro, enquanto consagração a Jano e mesmo quando esse não era o primeiro mês do calendário vigente, era dia de pedir um novo começo, de desejar algo de melhor e fazer planos para o futuro. Tudo isto em clima de festejos. Assim se explica a origem onomástica do mês Janeiro, o seu significado, motivo de festejos e relação com o deus Jano dos romanos."

Fonte: “Mitologia, mitos e lendas de todo o mundo” – Editora Lisma