sábado, 30 de outubro de 2010

http://www.lusa.pt/lusaweb/

Manuel Gusmão

HAVIA SÉCULOS

Havia séculos
e eram florestas sobre florestas escritas.
O canto cantava: era o incêndio do vento
folheando a memória da terra
essa maranha de raízes aéreas que nasciam enterrando
mais fundo as árvores anteriores;
essa teia nocturna de troncos e lianas, de ramos e folhas,
nervuras que os versos enervam irrespiráveis;
esse mapa em relevo lavrado pela paciência da luz
que atrasando-se recorta
estas estranhas esculturas do tempo:
os poemas selvagens
o máximo excesso de uma rosa aquática e frágil
sempre a nascer desfiladeiros
e falésias, fendas, quebradas, ravinas
vulcões que deflagram em écrans sucessivos
Havia séculos
e o cinema dos astros
acendia ampolas e bagas, campânulas, cápsulas, lâmpadas;
punha em música a infinita noite dos versos que longamente
escutam
aqueles que muito antes ou muito depois vieram ou virão
até estes anfiteatros que os desertos invadem.
Havia séculos
e / atravessando as ruínas dessa terra quente, as páginas
de água dessa rosa alucinada / havia esse:
o comum de nós que dos seus se dividindo, verso
a verso, procura ainda alguém. E assim
era de novo o início.
A grande migração das imagens — havia séculos —
desde há muito começara, desde sempre, já.
E sem cessar migrávamos nós, inquietos e perdidos
sem paz e sem lei, sem amos nem destino.



(Migrações do Fogo, Editorial Caminho, Lisboa, 2004)

A TERCEIRA MÃO DE CARLOS DE OLIVEIRA

Manuel Gusmão

A TERCEIRA MÃO DE CARLOS DE OLIVEIRA


I

A primeira mão escreve com o tempo e contra
o tempo
a segunda reescreve o passado com o futuro e
por todo
o lado instaura o presente do fim
depois a terceira mão vem e escova
e constela os tempos

II

A primeira monta um cenário nocturno à espera
da noite que virá. A segunda traz a esse cenário
a noite glaciar. A terceira sobrepõe as noites
e revela o seu povoamento
comum: luz eléctrica, papel intensificado,
uma teoria da escrita, desolação.

III

Uma segreda e comove-se
no espelho tempestuoso. Outra seca
o saco lacrimal e deduz de si mesmo o movimento
que faz a emoção: A terceira contribui
com o espelho das metamorfoses, a câmara
que filma a dedução
[e enlouquece numa só letra.


[in A Terceira Mão, Caminho, 2008]

Manuel Gusmão

manuel gusmão - teatros do tempo

inverno

a fotografia olha devagar o fotógrafo e diz-lhe:
« de mim a ti o mundo é a chuva e o vento,
por trás de mim o mar é branco e as ondas longe
são o branco do branco.vejo nos teus olhos cegos
a estrada quasa submersa, os faróis de nevoeiro.
Mas nunca ouvi falar do verão.Deve haver algum engano.»


Leitura

http://angnovus.wordpress.com/2010/04/07/inquerito-sobre-a-coca-cola-manuel-gusmao/


Manuel Gusmão

Bibliografia

Ensaio e Antologia
A Poesia de Carlos de Oliveira (1981)
A Poesia de Alberto Caeiro (1986)

Poesia
Dois Sois, A Rosa - A Arquitectura do Mundo (1990/2001)
Mapas: o Assombro e a Sombra (1996)
Teatros do Tempo (1994-2000) (2001)
Os Dias Levantados (2002) (libreto para ópera de António Pinho Vargas)
Migrações do Fogo (2004)
Mapas o Assombro a Sombra (2005)
A Terceira Mão (2008)
via
http://poemas-poestas.blogspot.com/2008/05/manuel-gusmo_20.html

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

“Os pés de Rudolf Nureyev”


"Foi uma alegria quando o sexto esquerdo do prédio dos meus pais foi comprado. Finalmente, o último apartamento seria ocupado. Acabava, assim, o corrupio de potenciais compradores, gente que entrava e saia, examinando cada recanto, mexendo em tudo, olhando-nos, seus potenciais vizinhos, com a mesma frieza com que olhavam os mármores da entrada e os alumínios dos caixilhos. O prédio seria, por fim, poupado ao embaraço desses estranhos que pareciam fazer troça do nosso lar. Podia repousar na tranquila alegria de uma família completa. Logo se soube que o apartamento fora comprado por um casal de professores aposentados. Tinham apenas um filho que acabara há pouco tempo o curso de medicina. As características do novo agregado familiar agradaram a toda a gente. Num prédio de funcionários públicos, donas de casa, militares de pequena patente, retornados, um casal de professores proporcionava a decência escolástica que o exercício do professorado ainda gozava naquele tempo. Um jovem médico exerceria, por outro lado, uma boa influência nos miúdos que cresciam naquele bairro dos arrabaldes de Lisboa. Feita a mudança, o casal instalou-se. Os professores aposentados eram muito educados. Nunca estacionavam o carro no lugar dos vizinhos e traziam o patim da escada impecavelmente limpo. Já o filho, o jovem médico, logo na sua primeira aparição, provocou nos habitantes do prédio um desconforto miudinho. Era uma sensação estranha que não sabiam explicar. Parecia um bicho cocegando a pele.

Esguio, seco como um ramo, de rosto pálido e comprido, o rapaz fazia lembrar um louva-a-deus. Tinha lábios finos, hirtos, tensos. Os olhos, cinzentos, muitos claros, eram bonitos, quase transparentes, de vidro, como se neles nos pudéssemos assomar para lhe espreitar o avesso. Vestia-se com uma certa informalidade moderna que muitos vizinhos confundiam com desmazelo. Usava o cabelo pelos ombros e trazia sempre uma mala a tiracolo. Movia-se com discrição. Em silêncio. Parecia procurar as sombras para que ninguém o visse. O jovem médico, andrógino, ligeiramente extravagante, tão silencioso, foi olhado com desconfiança. Um dia tudo se esclareceu: o rapaz afinal não era só médico. Também era bailarino. Fazia parte de uma companhia de dança clássica. Foi um desassossego. Os habitantes inquietaram-se. Um bailarino, ainda que médico, não era uma influência saudável na juventude do prédio. Os rapazes mais velhos andavam quase todos na Afonso Domingos. Tinham o destino traçado. Era um futuro de sucesso e virilidade que os esperava. Seriam engenheiros mecânicos, engenheiros civis, engenheiros químicos, engenheiros electrotécnicos. Se algum, mais sensível, não se sentisse atraído pelo funcional mundo da engenharia, poderia ser sempre arquitecto. Um bailarino destoava daquele quotidiano de fundações sólidas e inabaláveis.

Eu, pelo contrário, quando soube da notícia, fiquei encantada. O meu mundo, circunscrito ao prédio, ao centro comercial do bairro e ao externato, não tinha bailarinos, nem cantores, nem pintores, dispensava a poesia e a imaginação. As pessoas que conhecia, coitadas, eram tão concretas! Por essa altura, influenciada pelo comunismo da minha tia, vibrava com as vitórias das ginastas russas, apreciava genuinamente os desenhos animados checoslovacos. Gostava, sobretudo, de me encostar no corpo da tia Dé, para assistirmos aos programas de televisão que glorificavam o socialismo soviético. Foi neste contexto, embalada nos braços de fêmea da minha tia, que, num documentário sobre a vida do bailarino russo, descobri os pés do Rudolf Nuriyev. Como boa aprendiza, não me interessei pela história da fuga. Queria lá eu saber por que é que o bailarino fugira da pátria amada e se enfiara no covil mais sujo do mundo! O que me impressionou, e para sempre se gravou na minha memória, foi a imagem dos seus pés. Eram uns pés monstruosos, feiíssimos, calejados, totalmente deformados pelas longas horas de treino em pontas. Com as suas calosidades, os seus ossos corcundas, os metatarsos deslocados, as falanges e falangetas libertas da sua posição inicial, soltas numa amálgama de tecidos moles, eram uma imagem impressionante de sofrimento e perseverança. Mostravam também que a beleza pode nascer da feiura. Aqueles pés equídeos eram os mesmo que sustentavam o corpo esguio do bailarino e o fazia voar pelo palco, com uma leveza de pássaro alado.

Foi então que pensei: se o tal Rodolfo Nuriyev, que era bailarino, tinha pés deformados, também o meu vizinho bailarino os teria. Era um silogismo simples que permitia conclusões irrefutáveis. Os pés do jovem médico tornaram-se numa obsessão. Precisava de os ver! Quando subia com o jovem médico no elevador, a primeira coisa que fazia era olhar para baixo. Porém, ele trazia sempre os pés enfiados numas alpercatas vermelhas. Eu bem tentava perceber, através da lona áspera, a forma dos seus pés. Mas nada. Nem um joanete, nem um aleijão, nem uma curva duvidosa se mostrava para me sossegar a curiosidade. Estava quase a perder a esperança quando finalmente lhe pude ver os pés. Certa manhã, saindo do prédio com a minha mãe, percebi que o jovem médico subia a rua em sentido contrário. Os pés vinham livres, enfiados nuns chinelos. Antecipei, com deleite, as sensações de surpresa e horror que iria experimentar. Apressei o passo. Quando nos cruzámos, enquanto a minha mãe cumprimentava o jovem médico, olhei-lhe para os pés. Tive uma desilusão profunda. Devo ter soltado um grito pequenino. Para meu desgosto, eram uns pés grandes, normais, de dedos longos, sem qualquer interesse, nem um calinho se topava naquela pele macia, naqueles pés de deus grego. A normalidade daqueles pés pareceu-me grotesca. Não fora a minha mãe puxar-me pela mão e teria invertido o sentido da marcha para os observar com mais atenção, para me indignar com a sua banalidade.

O tempo passou. Apesar de mal se dar por ele, continuava a procurar as sombras, o jovem médico passou a ser o exemplo de um mundo de certa bizarria que não era o nosso. Uma manhã, estando na sala a ler, escutei na cozinha, a voz da minha mãe e da minha tia. Falavam em murmúrios. Calaram-se quando entrei. Percebi que era do jovem médico que falavam. Se calhar, pensei eu, também elas haviam reparado nos seus pés normais! Afinal, a tia Dé vira na televisão o documentário sobre o tal bailarino russo! Ela sabia que os bailarinos não tinham pés macios, normais, bonitos! Até que, certo dia, percebi que só eu vivia angustiada com a normalidade dos pés do jovem médico. Estava perto do elevador. Esperava que a minha mãe chegasse com o correio para subirmos, quando, vinda da escuridão fresca da garagem, surgiu uma mulher. Olhei-a de alto a baixo. Trazia o cabelo apanhado com muitos ganchos. Não era bonita, nem feia. Nem gorda, nem magra. Nem alta, nem magra. Era apenas uma mulher. O rosto pareceu-me vagamente familiar. Subiu connosco no elevador. Usava um vestido pingão às cornucópias, que parecia escorrer-lhe do corpo, escondendo formas e saliências. Calçava sandálias de couro e, por isso, pude ver-lhe os pés. Depressa percebi que conhecia aqueles pés. Por tudo aquilo que não eram, de tão normais e banais, aqueles pés tinham ficado gravados num canto qualquer da minha memória. Eram os pés do jovem bailarino, só que estavam postos no corpo daquela mulher. Olhando-lhe para os pés, percebi que afinal a mulher fazia-me lembrar o jovem médico: tinha os mesmos olhos transparentes, de vidro, aguados, tristes. Puxei a mão da minha mãe, muito aflita, como que a tentar explicar-lhe a razão do meu tormento. Quando saímos no terceiro andar, mal a porta se fechou, perguntei-lhe o que se passava, quem era aquela mulher que estava no nosso prédio e se apossara dos pés e do rosto do jovem médico. A minha mãe procurou a chave na mala, meteu-a na fechadura, rodou-a sobre si própria, uma duas, três voltas, abriu a porta. Depois, esgueirou-se para o quarto, dizendo que tinha de tirar os sapatos que lhe magoavam os pés. Quando voltou, descalça, perante o meu olhar inquisidor, como se falasse da coisa mais natural do mundo, explicou que o jovem médico fizera uma operação e se tornara numa mulher. Mandou-me fazer os trabalhos de casa e fugiu para a cozinha. Fiquei parada, no meio do corredor, na companhia dos deuses de sândalo, espantada com aquela revelação. Como podia um homem transformar-se em mulher? Podia acontecer-me o mesmo?

O assunto foi esquecido. A minha mãe e a minha tia, por vezes, falavam do jovem médico, sem maledicência ou preconceito. Só estranheza. O meu pai, porém, franzia-se todo. Homossexuais, lésbicas, transexuais, eram uma estirpe de proscritos. Não eram dignos de desprezo ou nojo. Apenas de indiferença. Como os intocáveis da sua Índia natal. Calei as minhas dúvidas durante muito tempo. Anos mais tarde, percebi, naturalmente, o que acontecera. O rapaz do sexto esquerdo livrara-se de um corpo que não era seu. Porventura, fizera uma vaginoplastia, redesenhara a sua intimidade, arrancara de si um pedúnculo de raízes fundas, mas podres. No seu lugar, crescera uma flor muito frágil e simples. Era um acto de profunda coragem que punha em causa as leis do mundo, de deus e do nosso prédio. Desejei que a metamorfose do seu corpo lhe trouxesse paz. O jovem médico, tornado mulher, deixaria de procurar as sombras. Foi o que pensei. Voltei a subir no elevador, muitas vezes, com a médica. Assisti ao seu envelhecimento. Passou a usar óculos. O cabelo ralo cola-se ao crânio, sem graça ou beleza. Parece trazer sempre o mesmo vestido de cornucópias. Deixou de dançar e engordou um pouco. Os pais morreram. Vive sozinha no sexto esquerdo. Da janela da marquise do apartamento dos meus pais, onde gosto de observar a rua da minha infância, vejo-a chegar. Estaciona o carro no lugar onde o seu pai estacionava um datsun azul. Tira um ou dois sacos de compra. Movimenta-se com lentidão. Continua a procurar as sombras. Já não estranho que, há muito tempo atrás, tenha sido o jovem médico bailarino que fez tremer os alicerces do nosso mundo. Perdoei-lhe, há muito, o facto de ter uns pés normais, sem o grotesco encanto dos do Rudolf Nuriyev. Vista da janela, procurando as sombras, sempre as sombras, apenas me custa a sua solidão, que é imensa.
"


http://www.etudogentemorta.com/2010/10/os-pes-de-rudolf-nureyev/trackback/


http://ana-de-amsterdam.blogspot.com/

Influenciadores

INFLUENCERS is a short documentary that explores what it means to be an influencer and how trends & creativity become contagious today in music and fashion

Influenciadores é um curto documentário que explora o que significa ser um influenciador e como as tendências e criatividade se tornam contagiosas hoje na música e na moda

http://vimeo.com/15595024




INFLUENCERS TRAILER from R+I creative on Vimeo.





WELCOME TO THE DESERT OF THE REAL

BEM-VINDO AO DESERTO DO REAL



http://www.youtube.com/watch?v=9QK_77ZzxKQ&feature=player_embedded#!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

José Tolentino Mendonça



A rapariga de Providence

Um nome arde tanto
de repente todos os caminhos parecem de regresso
a vida por si mesma não se pode escutar demasiado
a vida é uma questão de tempo
um sopro ainda mais frágil

a rapariga desce à pequena praça,
compra uma flor para ter na mão
uma forma intemporal de conservar
a perfeição ou a incerteza

José Tolentino Mendonça

(in "A noite abre meus olhos/poesia reunida", Assírio & Alvim)

Aguarde em Linha


www.alfredosabat.com
Un proyecto personal, dedicado a los call centers. Música generada con GarageBand, Imágenes bajadas de la web y alteradas; a mi conocimiento, están en el dominio público. Agradezco a los grandes artistas del pasado por su (involuntaria) colaboración.
A personal project, dedicated to all call centers. Music generated with GarageBand. Images downloaded from the web and altered: to my knowledge thy are on public domain. I thank all great artists of the past for their (unwilling) collaboration.


http://www.alfredosabat.com/


Un projecto pessoal, dedicado a los call centers. gerada Música con GarageBand, baixadas Imagens de alteradas y web; um conocimiento mi, están en el dominio Público. Agradeço de Los Grandes Artistas del pasado Por su (involuntária) Colaboración.
Um projecto pessoal, dedicada a todos os call centers. Música gerada com o Garage Band. Imagens baixados da web e alterados: ao meu conhecimento são os teus em domínio público. Agradeço a todos os grandes artistas do passado pela sua colaboração.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Emotional turn

«Ir en busca del lenguaje y regresar sin nada.»
JULIA OTXOA


O nosso embalo vem à direita da letra
e já vem tempo que parece ser fatal
o que no fim do dia arrepende
Temos uma toada emocional embora fria
Disputamo-la nas pequenas imagens
truques traves e toques
de potentes linguagens que algum dia
até são nossas e logo se nos espraiam
mas mesmo reparo Praia e praia
Eu aqui só digo praia
Temos uma toada emocional tão fria
como o favorito do Pessoa e isso sim
o amor todo dobrado
também uma grande galeria
de coisas que ainda fazem chorar
como na escola as festas de fim de ano
com grupos de língua inglesa e
tremendamente enamorados
já ninguém diz

na antologia "O Prisma das Muitas Cores - poesia de amor portuguesa e brasileira", de Victor Oliveira Mateus (coord.). Labirinto, 2010.

via
http://hmmachado.blogspot.com/

http://www.facebook.com/pages/Falamos-Portugues/190965291072

sábado, 23 de outubro de 2010

Paramore: The Only Exception

http://www.youtube.com/watch?v=-J7J_IWUhls&feature=player_embedded


http://www.sfmuseum.org/1906/06.html

Uma Biblioteca é Um Hospital Para a Mente

"Para aprender a ler é acender uma fogueira, cada sílaba que é soletrada para fora é uma faísca."
Victor Hugo Victor Hugo


Uma biblioteca é um hospital para a mente.
Anónimo

A library is a hospital for the mind.
Anonymous





http://blogs.nlb.gov.sg/esl/


http://blogs.nlb.gov.sg/readandreap/young-people/paralyzed-like-a-donkey/


http://www.shaminiflint.com/books-childrenpictures.html



Morley Safer relatórios sobre um mistério que foi resolvido sobre um filme de 100 anos de idade que hoje conhecemos foi feito no Mercado de São Francisco Rua poucos dias antes do terramoto de 1906.

Histórico 1906 Captura de Cinema S.F. 'Street Market s


Morley Safer reports on a mystery that was solved about a 100-year-old film that we now know was made on San Francisco's Market Street just days before the 1906 earthquake.

Historic 1906 Film Captures S.F.'s Market Street

via
http://www.cbsnews.com/video/watch/?id=6966797n&tag=component.1


Read more: http://www.cbsnews.com/video/watch/?id=6966797n&tag=component.1#ixzz13E1TuXrd

For anyone interested in this film, please google "san francisco earthquake" and find a film (at the Library of Congress archives?) showing a similar film, although AFTER the earthquake. Together, you have an amazing before-and-after document.

Read more: http://www.cbsnews.com/video/watch/?id=6966797n&tag=component.1#ixzz13E4J4zgv



"san francisco earthquake"

http://www.eyewitnesstohistory.com/sfeq.htm


História através dos olhos daqueles que viveram
History through the eyes of those lived it

http://www.eyewitnesstohistory.com/sfeq.htm

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O equilíbrio do planeta Terra

Poluição atmosférica e doenças cardiovasculares

"Falar de ambiente é falar da deusa mãe criadora de todas as espécies. Nada é mais importante do que os fatores ambientais e mesmo que hoje em dia se diga que a nossa saúde ou doença resulta da interação entre o meio ambiente, nurture, e do património genético, nature, mesmo assim, podemos afirmar que este último, o genoma, é filho da primeira, embora tenha adquirido carta de alforria. As preocupações ambientais são relativamente recentes. Recordo que em Dezembro de 1968, presumo que na véspera do Natal, na sequência da viagem da Apolo 8 foi obtida pela primeira vez uma imagem da Terra no decurso da órbita lunar. A fotografia era de tal modo fascinante que nunca mais a esqueci ao ponto de, na altura, a pendurar na parede do meu quarto. Não me cansava de olhar para tanta beleza. Prestes a fazer 18 anos, pensava como era possível que naquele globo azul e branco houvesse tantas coisas belas, vida, alegria, tristeza, guerras, miséria, grandeza, amor e ódio e uma espécie pensante. Em 1990, Carl Sagan conseguiu que no momento em que a Voyager 1 ia a começar a sair do sistema solar, a mais de seis mil milhões de quilómetros, tirasse uma fotografia da Terra. A fotografia é um mero ponto azul-claro. Esta fotografia contrasta com a da Apolo 8 ou com o mais recente “Pôr da Terra”. Um mero ponto a desafiar a ilusão de que somos importantes, de que ocupamos um lugar privilegiado no Universo. Afinal, “o nosso planeta é uma partícula solitária numa imensa escuridão cósmica envolvente”. Tem vida? Tem! Mas alguém seria capaz de o afirmar se estivesse colocado àquela distância e olhasse para o ponto azul-claro? Estou convencido de que não. Há quem afirme que esta imagem, o tal ponto azul minúsculo, tirada do espaço, originou a emergência do discurso público sobre o ambiente. Não importa se é verdade ou não, o que interessa é estabelecer uma data histórica como ponto de partida para uma nova consciência ambiental. Tal atitude faz-me lembrar a experiência realizada por Galileu na Torre de Pisa, em 1590, quando lançou dois corpos de massas diferentes, dando origem à Revolução Científica. Há que afirme que tal evento nunca foi efetuado. Mas que importa? O que interessa é que o reinado aristoteliano e aquiniano acabou dando lugar a novas formas de pensar. Do mesmo modo, a imagem da Terra obtida pelos astronautas norte-americanos revelou algo de belo e global, escondendo muitas coisas, inclusive atentados ambientais que na grande maioria não conhecem fronteiras nem povos. A famosa revista Time introduziu na sua edição de 1 de agosto de 1969, pela primeira vez, uma nova secção intitulada ambiente. Era o primeiro passo para encontrar a harmonia entre a humanidade e a única casa que temos, o planeta Terra. Quando a comunicação social responde a certos desafios é porque algo está a acontecer e merece atenção. De facto, vários desastres ambientais começaram a ter evidência, obrigando ao debate sobre novas matérias e a criação de um novo léxico para que os cidadãos compreendessem as notícias. Apesar dos avanços e recuos, foi preciso uma década de espera para o retomar de uma consciência ecológica. As consequências das alterações ambientais não são nada agradáveis e só com uma forte sensibilização das comunidades é que é possível travar ou minimizar os seus efeitos. Mas não é fácil, porque a perceção do risco ambiental é um verdadeiro paradoxo. Se olharmos para a nossa maior cidade, e também a mais poluída, Lisboa, os cidadãos começam a queixar-se logo que apareça um “cheiro” estranho, como aconteceu ainda há pouco tempo na sequência da rotura de um esgoto, mas se certos poluentes, verdadeiramente perigosos, não forem quantificados e identificados pelos citadinos narizes, então, o pessoal continua no seu dia-a-dia sem se preocupar minimamente. O equilíbrio do planeta Terra é cada vez mais delicado, fazendo-se à custa de uma imensa entropia negativa, quer no verdadeiro sentido da palavra, com todos os inconvenientes energéticos, quer em sentido figurado pelos receios resultantes das medidas a adotar. A par deste fenómeno, complexo, outros merecem a nossa atenção. O caso da poluição atmosférica é uma realidade inquestionável que não atinge apenas as vias respiratórias, mas acaba por contribuir para o aparecimento de problemas congénitos, tumorais e cardíacos. O relatório sobre Ambiente e Saúde publicado pela Agência Europeia do Ambiente realça os efeitos da poluição na saúde humana. As consequências ocorrem a vários níveis e resultam de vários poluentes. Dentro destes destacamos os níveis excessivos de partículas no ar provenientes da utilização dos diversos combustíveis que provocam elevada mortalidade. A OMS calcula que as partículas no ar sejam responsáveis por 100 mil mortes e 750 mil anos de vida perdidos (dados de 2004). As partículas mais finas estão a ser alvo de atenção redobrada de forma a reduzir a sua produção. A inalação crónica, mesmo em baixas concentrações, provoca graves problemas de saúde. Ultimamente tem sido discutido o papel da poluição atmosférica nas doenças cardiovasculares caso do enfarte do miocárdio e dos acidentes vasculares cerebrais. Aparentemente, esta associação não seria de esperar. No entanto, alguns estudos epidemiológicos e experimentais em animais revelam que a associação existe. É muito mais prático abordar certas situações como o caso da obesidade, que constitui, também, um excelente exemplo de outro tipo de poluição ambiental relacionada com vários fatores, em parte genéticos, sem dúvida, mas, sobretudo, com interesses económicos e inoperância política, nomeadamente em termos legais. Os portugueses são extraordinariamente obesos o que constitui um risco elevado de virem a sofrer diabetes, hipercolesterolemia, enfarte e acidente vascular cerebral. Deste modo, podemos afirmar que ser-se obeso é um fator de risco cardiovascular nada desprezível, mas no caso de viver em meio poluído, caso das grandes cidades ou zonas industrializadas, o risco de enfarte ou de acidente vascular cerebral aumenta de forma significativa. A par da poluição global, cujos efeitos começam a ser bem conhecidos, não obstante a falta de colaboração das autoridades que só muito a custo, e à força de lóbis ambientalistas, é que exercem atividades fiscalizadoras, de acordo com os tratados e convenções internacionais, devemos citar o problema do tabaco, e do fumo passivo, claro. Queria, muito rapidamente, tecer alguns comentários sobre esta forma de poluição. O ditador jubilado, Fidel Castro, que deixou de fumar em 1986, consciente dos malefícios, apresentou um argumento digno de um génio: "a melhor coisa a fazer é dá-los (tabaco) ao teu inimigo". Mesmo assim, é muito pouco provável que os prisioneiros políticos de Cuba estejam a receber caixas de charutos! Sabemos que as medidas legislativas são indispensáveis para reduzir as consequências deste fator altamente nocivo. Aguardámos bastante tempo pela legislação neste sentido, mas, finalmente já dispomos e parece estar a ser devidamente cumprida. Esta abordagem tem um objetivo: afirmar que a patologia ambiental é mais do que um problema de saúde pública. Sendo, basicamente, um problema político, e caso não ocorra uma inflexão nesse sentido, não iremos muito longe. Acabaremos por continuar a ser agredidos de várias maneiras, através do ar, da água, dos alimentos, das condições ambientais no local do trabalho, das novas tecnologias, dos diferentes sistemas políticos e económicos, entre outros. A capacitação do cidadão em termos de controlo ambiental está bem definida através de várias convenções que aconselham os estados a legislar no sentido de produzirem normativos adequados às novas realidades ambientais. É indispensável que sejamos dotados desses meios, mas tardam. Claro que os problemas de poluição "grosseira" são fáceis de detetar por qualquer um de nós, graças aos nossos sentidos, e mesmo assim eles ocorrem de uma forma obscena debaixo dos nossos olhos e narizes, sem que os responsáveis acionem os mecanismos adequados à sua prevenção. Se assim é, e estamos a falar do nosso país, o que dizer da chamada poluição "fina", a que não se vê, a que não se cheira, a que não mata imediatamente e, mesmo provocando doenças, porque provocam, demoram décadas a manifestarem-se, acabando por serem interpretadas como meras fatalidades da velhice? Muito da patologia que nos atinge tem a ver com o meio ambiente em geral e do trabalho em particular. Claro que os estudos nestas áreas não são nada fáceis de realizar, por falta de patrocinadores, de empenhamento do próprio estado, cúmplice de interesses instituídos e que não pretende mexer em certas áreas. Lá sabem as razões. Convém chamar a atenção para o facto de não ser preciso transformar um português numa Erin Brocovich, porque, entre nós, seria muito perigoso. Começam a aparecer alguns estudos ambientais que revelam efeitos negativos na saúde dos nossos concidadãos, mas não são acarinhados e, pelos vistos, nem bem-vindos, ao porem em causa muitas situações negativas. As próprias autoridades de saúde deveriam efetuar mais estudos e fiscalização nestas áreas, mas não me parece que seja o caso, infelizmente. Compete aos médicos diagnosticar, denunciar e propor medidas que possam contribuir para a melhoria do ambiente, que bem precisa, quer à escala global, mas também à nossa escala, não esquecendo que estamos perante uma forma de disfunção transnacional. Importa ainda afirmar que os múltiplos e crescentes efeitos da poluição não são estáticos mas sim dinâmicos a ponto de provocarem efeitos nas próximas gerações mesmo antes de virem a ter contacto com o futuro ambiente, que esperemos seja muito melhor do que o presente. O que não é justo é terem de pagar pelos disparates dos seus antepassados. O fenómeno epigenético começa a ser uma realidade incontestável, e, por isso mesmo, tem de ser tomado em linha de conta nas políticas ambientais. Crianças ou jovens adultos expostos a contaminação ambiental poderão sofrer efeitos na sua estrutura suscetível de provocar problemas a nível do ADN de tal modo que os descendentes, diretos ou mais longínquos, venham ainda a sofrer na pele as consequências da exposição dos seus antepassados. Esta nova realidade obriga-nos a pensar duas vezes sobre o que andamos a fazer, sobretudo quando as vítimas poderão ser aquelas que não tiveram qualquer quota-parte na produção da poluição. A responsabilidade transgeracional é uma nova realidade a desenvolver e a esclarecer. A problemática ambiental constitui uma das principais preocupações a nível mundial. O elevado número de convenções, cimeiras e protocolos são prova de um verdadeiro desassossego ambiental. Apesar de todos os esforços, não tem sido possível evitar as múltiplas e constantes agressões ambientais. A par da educação e formação cívica torna-se imperioso criar legislação adequada para minimizar e reduzir as consequências, salvaguardando deste modo as diferentes espécies. A legislação criada ao redor da poluição ambiental é vasta e naturalmente muito importante, mas mesmo assim não é suficiente, já que a sua aplicação prática não é consentânea com os fenómenos que, quase diariamente, são noticiados, os quais provocam ansiedade e preocupação nas comunidades. Nas últimas décadas assistimos a uma crescente consciencialização dos problemas ambientais, como é o caso de Portugal. Facto que consideramos naturalmente muito positivo, mas que originou vários problemas, nomeadamente desconfiança por parte das populações, face às empresas poluidoras ou potencialmente poluentes, assim como em relação às organizações estatais a quem compete fiscalizar a aplicação de um conjunto cada vez mais vasto de normativos nacionais e comunitários. A amplitude dos problemas relacionados com a saúde é muito vasta, conforme já afirmei. De qualquer modo, importa abordar dois ou três aspetos mais concretos que nos permitam analisar a complexidade e a interação com o nosso bem-estar. Uma das áreas mais em foco tem a ver com a problemática da emissão de subprodutos tóxicos e partículas finas resultantes da combustão e tratamentos térmicos de resíduos perigosos. Os processos térmicos e a combustão dominam a poluição atmosférica. A atenção tem sido dada aos principais contribuintes, caso do ozono, compostos orgânicos voláteis, óxidos de azoto e produtos de combustão incompleta. Contudo, poluentes orgânicos, tais como benzeno, dioxinas e furanos, acrilonitrilo e brometo de metilo, são exemplos de combustão incompleta de carbono, carbono e cloro, carbono e azoto, e carbono e compostos de brometo, respetivamente. Muitos destes poluentes estão, frequentemente, associados com partículas finas e ultrafinas. As partículas finas são definidas de acordo com o diâmetro. As PM2,5 e as PM0,1 têm diâmetros inferiores a 2,5 e a 0,1 micra, respetivamente. Muitos poluentes estão associados com partículas finas, as quais são responsáveis por muitas doenças respiratórias e cardiovasculares. A evidência científica revela que estas partículas são responsáveis pelo stress oxidativo que, por sua vez, está implicado no desencadear de muitas patologias. Os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, os hidrocarbonetos clorados, incluindo dioxinas e furanos, os metais tóxicos, os radicais livres estão associados com as partículas geradas pela combustão e têm sido responsabilizadas por vários problemas de saúde. As partículas ultrafinas, nanopartículas, não são eficientemente capturadas pelos dispositivos de controlo da poluição, penetram profundamente nas vias respiratórias, e são suscetíveis de serem transportadas à distância, produzindo graves prejuízos. As partículas de maiores dimensões PM10 depositam-se na parte superior das vias respiratórias e podem ser limpas através do sistema mucociliar. Em contrapartida as PM2,5 e as PM0,1 atingem os alvéolos pulmonares onde penetram rapidamente o epitélio. A sua clearance é mediada através da atividade fagocítica e dissolução das partículas. No tocante às nanopartículas (PM<0,1), estas conseguem ter um impacto muito significativo noutros órgãos. Os radicais livres presentes nas partículas finas e ultrafinas podem produzir alterações do ADN. As suas ações manifestam-se a nível pulmonar com diminuição da função, alterações inflamatórias cujos efeitos não ficam acantonados ao órgão de choque, indo atuar em várias partes da economia humana. A função imunológica sofre, igualmente, as consequências, ao modular a resposta devido a certas infeções respiratórias. São inúmeros os estudos epidemiológicos que revelam aumento da mortalidade associada a níveis elevados de PM. A hospitalização de crianças em idade pré-escolar, assim como pessoas de idade duplica nas comunidades onde as PM10 atingem concentrações superiores ao recomendado. Os macrófagos alveolares humanos apresentam diminuição significativa de certos número de recetores para a defesa do hospedeiro quando expostos às PM. Por exemplo, a capacidade de produzir ROS (reactive oxygen species), que são muito importantes na destruição de microrganismos, fica substancialmente reduzida dentro de 18 horas, assim como uma diminuição significativa da sua capacidade fagocítica. Além de múltiplas perturbações da função pulmonar, o desenvolvimento pulmonar nas crianças pode ficar comprometido. O sistema cardiovascular não está imune aos seus efeitos. De tal modo que a taxa de mortalidade cardiovascular pode ser superior à taxa de mortalidade respiratória nos picos de poluição atmosférica. A associação temporal entre a hospitalização e a mortalidade cardiovascular e as partículas ambientais é muito curta (0 a 3 dias) sugerindo que o incremento observado seja devido a isquémia miocárdica, enfartes e/ou arritmias ventriculares. A longo prazo a inflamação cardiovascular torna-se uma realidade responsável por vários fenómenos degenerativos. Os mecanismos precisos, através dos quais as PM aumentam o risco cardiovascular ainda não estão perfeitamente esclarecidos. De qualquer modo, a evidência aponta para o papel das citocinas, para a absorção pelo sangue e transporte até ao coração. As partículas ultrafinas parecem que penetram profundamente no organismo humano, através do trato respiratório inferior, difundindo-se pelo organismo, através da corrente sanguínea. Um dos problemas que mais preocupam as autoridades de saúde pública diz respeito aos chamados disruptores endócrinos que são agentes que interferem na síntese, armazenamento, libertação, secreção, transporte, eliminação, ligação, ou ação das hormonas. Obviamente as consequências da sua exposição dependem do momento, duração e intensidade de exposição. É no decurso do desenvolvimento fetal e nas crianças que ocorrem as denominadas janelas de vulnerabilidade. Resta saber o seu papel no desencadeamento das doenças cardiovasculares. Muito ficou por dizer, mas não queria antes de terminar deixar de falar da poluição atmosférica e diabetes, que constitui, como todos sabem, um dos principais fatores de risco cardiovascular. As alterações enzimáticas hepáticas que ocorrem com uma frequência crescente em indivíduos sem história de hepatopatias nem de consumo de álcool excessivo, constituem um forte indicador de diabetes, caso seja acompanhado de obesidade. Entretanto, a obesidade, per si, parece que não é o principal responsável! Nesta perspetiva, poderíamos questionar: - Será que uma aumento da gama GT pode constituir um marcador de exposição a poluentes, caso dos bifenilopoliclorados? De facto, investigadores estudaram este assunto, e, com base no NHANES (National Health and Nutrition Examination Survey), descobriram que os indivíduos com níveis elevados de seis diferentes POPs - poluentes orgânicos persistentes, um grupo muito particular, representado por doze substâncias, os “doze malditos” que já foram, inclusive, alvo de uma convenção, a de Estocolmo, com o objetivo de os eliminar ou reduzir a sua produção à escala mundial -, no sangue corriam mais risco de terem diabetes independentemente da obesidade. Nesse estudo, as pessoas com os níveis mais elevados de POPs, apresentavam uma taxa de diabetes 28 vezes superior aos que apresentavam valores mais baixos. É difícil colocar de lado este tipo de associação que nós, epidemiologistas, chamamos de “luxo epidemiológico”. Encontrar riscos relativos na ordem de 28 vezes mais é muito pouco comum. Curiosamente, entre os obesos com baixos níveis de POPs, o risco de diabetes era extremamente baixo. No lado oposto, os que apresentavam níveis elevados de POPs circulantes corriam mais risco de diabetes. E se fossem obesos, então a associação tornava-se mais forte. Nesta perspetiva, efeito independente dos POPs, e agravamento quando associado à diabetes, leva-nos a pensar que a obesidade intensifica os efeitos perigosos. Falamos de associação, o que não significa, forçosamente, causalidade. É fácil estabelecer uma associação, mas é muito mais complicado estabelecer nexos de causalidade. Há quem aponte que os POPs, se estão mais elevados nos diabéticos, são uma consequência da doença e não causa. Ou seja, os doentes diabéticos teriam mais dificuldade em metabolizá-los, a depurá-los. Mas é pouco provável. Digo isto, porque há estudos que provam, ou melhor, sugerem que os diabéticos não se distinguem dos não diabéticos no que toca à eliminação dos POPs. A insulina resistência é um conceito bem definido que pode ocorrer a nível dos músculos, gordura e fígado. Os indivíduos cujo sangue revelam níveis elevados de POPs eram mais propensos à insulina resistência. Tudo aponta para este efeito por parte dos POPs. Aliciante, sem dúvida, a requerer mais estudos e reflexões. Mas vejam, não há bela sem senão. Neste caso concreto ficamos com algumas dúvidas, porque nos últimos tempos os níveis de POPs no sangue dos norte-americanos têm vindo a diminuir – em consequência da luta contra a poluição ambiental -, e a diabetes a aumentar. Como explicar? Não sei! Talvez a obesidade constitua uma forma de tornar os POPs mais perigosos? É uma hipótese. Não esquecer a onda epidémica de diabetes na Ásia e na África cujo incremento é escandaloso e não é acompanhado de obesidade com a mesma intensidade. No entanto, os pesticidas e outros POPs têm ali o seu paraíso. Em síntese: nos próximos tempos convém por em “pé de igualdade” a poluição atmosférica, e quem sabe outras formas de poluição, ao lado dos tradicionais fatores de risco cardiovascular, diabetes, hipertensão, obesidade, hipercolesterolemia e muitos outros que fazem parte da ladainha da aterosclerose..."
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A Devida Comédia

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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Incentivo à leitura


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“Nós somos o resultado do que lemos, do que aprendemos e do que vivemos na escola.”
Marcelo Tass (jornalista, humorista e apresentador)


Os benefícios da leitura são incontáveis e ler sempre é fundamental.

1. Desenvolve o repertório - Ler é um ato para o nosso crescimento pessoal e profissional.


2. Amplia o conhecimento geral - Além de ser envolvente, a leitura expande as referências e a capacidade de comunicação.


3. Estimula a criatividade - Ler é fundamental para soltar a imaginação. Por meio dos livros, criamos lugares e personagens.


4. Aumenta o vocabulário - Graças aos livros, descobrimos novas palavras e novos usos para as que já conhecemos.


5. Emociona e causa impacto - Quem já se sentiu triste ao fim de um romance sabe o poder que um bom livro tem.


6. Muda sua vida - Quem lê desde cedo está muito mais preparado para os estudos, para o trabalho e para a vida.


7. Liga o senso crítico na tomada - Livros, inclusive os romances, nos ajudam a entender o mundo e nós mesmos.


8. Facilita a escrita - Ler é um hábito que se reflete no domínio da escrita. Quem lê mais escreve melhor.


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http://www.incentivo-a-leitura.blogspot.com/


Biblioteca de Livros Digitais
http://e-livros.clube-de-leituras.pt/

http://educarparacrescer.abril.com.br/livros/

Walk Above Water from killedthewind on Vimeo.

Joan Sutherland - Rejoice greatly O daughter of Zion




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http://olivrodaareia.blogspot.com/

re(ler) Saramago


"Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade.
A esta hora os companheiros da caravana já deram com certeza pela falta do ausente, dois deles declararam-se voluntários para voltar atrás e salvar o desditoso náufrago, e isso seria muito de agradecer se não fosse a fama de poltrão que o iria acompanhar para o resto da vida, Imaginem, diria a voz pública, o tipo ali sentado, à espera de que aparecesse alguém a salvá-lo, há gente que não tem vergonha nenhuma. É verdade que tinha estado sentado, mas agora já se levantou e deu corajosamente o primeiro passo, a perna direita adiante, para esconjurar os malefícios do destino e dos seus poderosos aliados, a sorte e o acaso, a perna esquerda de repente duvidosa, e o caso não era para menos, pois o chão deixara de poder ver-se, como se uma nova maré de nevoeiro tivesse começado a subir. Ao terceiro passo já não consegue nem sequer ver as suas próprias mãos estendidas à frente, como para proteger o nariz do choque contra uma porta inesperada. Foi então que uma outra ideia se lhe apresentou, a de que o caminho fizesse curvas para um lado ou para o outro, e que o rumo que tomara, uma linha que não queria apenas ser recta, uma linha que queria também manter-se constante nessa direcção, acabasse por conduzi-lo a páramos onde a perdição do seu ser, tanto da alma como do corpo, estaria assegurada, neste último caso com consequências imediatas. E tudo isto, ó sorte mofina, sem um cão para lhe enxugar as lágrimas quando o grande momento chegasse. Ainda pensou em voltar para trás, pedir abrigo na aldeia até que o banco de nevoeiro se desfizesse por si mesmo, mas, perdido o sentido de orientação, confundidos os pontos cardeais como se estivesse num qualquer espaço exterior de que nada soubesse, não achou melhor resposta que sentar-se outra vez no chão e esperar que o destino, a casualidade, a sorte, qualquer deles ou todos juntos, trouxessem os abnegados voluntários ao minúsculo palmo de terra em que se encontrava, como uma ilha no mar oceano, sem comunicações. Com mais propriedade, uma agulha em palheiro. Ao cabo de três minutos, dormia. Estranho animal é este bicho homem, tão capaz de tremendas insónias por causa de uma insignificância como de dormir à perna solta na véspera da batalha. Assim sucedeu. Ferrou no sono, e é de crer que ainda hoje estaria a dormir se salomão não tivesse soltado, de repente, em qualquer parte do nevoeiro, um barrito atroador cujos ecos deveriam ter chegado às distantes margens do ganges. Aturdido pelo brusco despertar, não conseguiu discernir em que direcção poderia estar o emissor sonoro que decidira salvá-lo de um enregelamento fatal, ou pior ainda, de ser devorado pelos lobos, porque isto é terra de lobos, e um homem sozinho e desarmado não tem salvação ante uma alcateia ou um simples exemplar da espécie. A segunda chamada de salomão foi mais potente ainda que a primeira, começou por uma espécie de gorgolejo surdo nos abismos da garganta, como um rufar de tambores, a que imediatamente se sucedeu o clangor sincopado que forma o grito deste animal. O homem já vai atravessando a bruma como um cavaleiro disparado à carga, de lança em riste, enquanto mentalmente implora, Outra vez, salomão, por favor, outra vez. E salomão fez-lhe a vontade, soltou novo barrito, menos forte, como de simples confirmação, porque o náufrago que era já deixara de o ser, já vem chegando, aqui está o carro da intendência da cavalaria, não se lhe podem distinguir os pormenores porque as coisas e as pessoas são como borrões indistintos, outra ideia se nos ocorreu agora, bastante mais incómoda, suponhamos que este nevoeiro é dos que corroem as peles, a da gente, a dos cavalos, a do próprio elefante, apesar de grossa, que não há tigre que lhe meta o dente, os nevoeiros não são todos iguais, um dia se gritará gás, e ai de quem não levar na cabeça uma celada bem ajustada. A um soldado que passa, levando o cavalo pela reata, o náufrago pergunta-lhe se os voluntários já regressaram da missão de salvamento e resgate, e ele respondeu à interpelação com um olhar desconfiado, como se estivesse diante de um provocador, que havê-los já os havia em abundância no século dezasseis, basta consultar os arquivos da inquisição, e responde, secamente, Onde é que você foi buscar essas fantasias, aqui não houve nenhum pedido de voluntários, com um nevoeiro destes a única atitude sensata foi a que tomámos, manter-nos juntos até que ele decidisse por si mesmo levantar-se, aliás, pedir voluntários não é muito do estilo do comandante, em geral limita-se a apontar tu, tu e tu, vocês, em frente, marche, o comandante diz que, heróis, heróis, ou vamos sê-lo todos, ou ninguém. Para tornar mais clara a vontade de acabar a conversa, o soldado içou-se rapidamente para cima do cavalo, disse até logo e desapareceu no nevoeiro. Não ia satisfeito consigo mesmo. Tinha dado explicações que ninguém lhe havia pedido, feito comentários para que não estava autorizado. No entanto, tranquilizava-o o facto de que o homem, embora não parecesse ter o físico adequado, deveria pertencer, outra possibilidade não cabia, pelo menos, ao grupo daqueles que haviam sido contratados para ajudar a empurrar e puxar os carros de bois nos passos difíceis, gente de poucos falares e, em princípio, escassíssima imaginação. Em princípio, diga-se, porque ao homem perdido no nevoeiro imaginação foi o que pareceu não lhe ter faltado, haja vista a ligeireza com que tirou do nada, do não acontecido, os voluntários que deveriam ter ido salvá-lo. Felizmente para a sua credibilidade pública, o elefante é outra coisa. Grande, enorme, barrigudo, com uma voz de estarrecer os tímidos e uma tromba como não a tem nenhum outro animal da criação, o elefante nunca poderia ser produto de uma imaginação, por muito fértil e dada ao risco que fosse. O elefante, simplesmente, ou existiria, ou não existiria. É portanto hora de ir visitá-lo, hora de lhe agradecer a energia com que usou a salvadora trombeta que deus lhe deu, se este sítio fosse o vale de josafá teriam ressuscitado os mortos, mas sendo apenas o que é, um pedaço bruto de terra portuguesa afogado pela névoa onde alguém (quem) esteve a ponto de morrer de frio e abandono, diremos, para não perder de todo a trabalhosa comparação em que nos metemos, que há ressurreições tão bem administradas que chega a ser possível executá-las antes do passamento do próprio sujeito. Foi como se o elefante tivesse pensado, Aquele pobre diabo vai morrer, vou ressuscitá-lo. E aqui temos o pobre diabo desfazendo-se em agradecimentos, em juras de gratidão para toda a vida, até que o cornaca se decidiu a perguntar, Que foi que o elefante lhe fez para que você lhe esteja tão agradecido, Se não fosse ele, eu teria morrido de frio ou teria sido comido pelos lobos, E como conseguiu ele isso, se não saiu daqui desde que acordou, Não precisou de sair daqui, bastou-lhe soprar na sua trombeta, eu estava perdido no nevoeiro e foi a sua voz que me salvou, Se alguém pode falar das obras e feitos de salomão, sou eu, que para isso sou o seu cornaca, portanto não venha para cá com essa treta de ter ouvido um barrito, Um barrito, não, os barritos que estas orelhas que a terra há-de comer ouviram foram três. O cornaca pensou, Este fulano está doido varrido, variou-se-lhe a cabeça com a febre do nevoeiro, foi o mais certo, tem-se ouvido falar de casos assim, Depois, em voz alta, Para não estarmos aqui a discutir, barrito sim, barrito não, barrito talvez, pergunte você a esses homens que aí vêm se ouviram alguma coisa. Os homens, três vultos cujos difusos contornos pareciam oscilar e tremer a cada passo, davam imediata vontade de perguntar, Onde é que vocês querem ir com semelhante tempo. Sabemos que não era esta a pergunta que o maníaco dos barritos lhes fazia neste momento e sabemos a resposta que lhe estavam a dar. Também não sabemos se algumas destas coisas estão relacionadas umas com as outras, e quais, e como. O certo é que o sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas. Os três homens já não estão aqui. O cornaca abre a boca para falar, mas torna a fechá-la. O maníaco dos barritos começou a perder consistência e volume, a encolher-se, tornou-se meio redondo, transparente como uma bola de sabão, se é que os péssimos sabões que se fabricam neste tempo são capazes de formar aquele maravilhas cristalinas que alguém teve o génio de inventar, e de repente desapareceu da vista. Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas. Plof."

(in A Viagem do Elefante, 3ª edição - Outubro de 2008, pgs. 88-94)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Passeio à beira-mar



Esta Gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"

A CASA ESTAVA QUIETA E O MUNDO ESTAVA CALMO

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De Wallace Stevens (1879-1955)

A CASA ESTAVA QUIETA E O MUNDO ESTAVA CALMO


A casa estava quieta e o mundo estava calmo.
O leitor tornou-se o livro; e a noite de estio

era como o ser consciente do livro.
A casa estava quieta e o mundo estava calmo.

As palavras eram faladas qual se não houvesse livro;
mas o leitor sobre a página se curvava,

queria curvar-se, queria muito ser
o sábio para quem seu livro é verdadeiro

e a noite de estio é como a perfeição do pensamento.
A casa estava quieta e o mundo estava calmo.

A paz era parte do sentido e do espírito:
o acesso da perfeição à página.

E o mundo estava calmo. A verdade em tal mundo,
onde não há outro sentido, ela própria,

é calma, ela própria é noite e estio, ela própria
é o leitor curvado até tarde e lendo ali.

Tradução de Abgar Renault in Poesia: tradução e versão (Record, 1994).

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http://leitoracritica.blogspot.com/





Outras Leituras


http://luzdeluma.blogspot.com/


http://soparadizerquetenhoumblog.blogspot.com/


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http://infinitopositivo.blogspot.com/


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Lightheaded

Lightheaded from Mike Dacko on Vimeo.




DARK SIDE OF THE LENS from Astray Films on Vimeo.

Cadeira Vazia



Ler João Ubaldo Ribeiro

O Verbo For



João Ubaldo Ribeiro



Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário — evidentemente o condizente com a nossa condição provecta —, tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).

O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas, preferivelmente. Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, dos quais até hoje sei o comecinho.

Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos nunca se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.

— Traduza aí quousque tandem, Catilina, patientia nostra — dizia ele ao entanguido vestibulando.

— "Catilina, quanta paciência tens?" — retrucava o infeliz.

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.

— Ai, minha barriga! — exclamava ele. — Deus, oh Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária. Senhor meu Pai!

Pode-se imaginar o resto do exame. Um amigo meu, que por sinal passou, chegou a enfiar, sem sentir, as unhas nas palmas das mãos, quando o mestre sentiu duas dores de barriga seguidas, na sua prova oral. Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.

O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo "dar um show". Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:

— Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!

— As margens plácidas — respondi instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.

— Por que não é indeterminado, "ouviram, etc."?

— Porque o "as" de "as margens plácidas" não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no hino. "Nem teme quem te adora a própria morte": sujeito: "quem te adora." Se pusermos na ordem direta...

— Chega! — berrou ele. — Dez! Vá para a glória! A Bahia será sempre a Bahia!

Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma bela vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava-se o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante. Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra "for" tanto podia ser do verbo "ser" quanto do verbo "ir". Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.

— Esse "for" aí, que verbo é esse?

Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.

— Verbo for.

— Verbo o quê?

— Verbo for.

— Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.

— Eu fonho, tu fões, ele fõe - recitou ele, impávido. — Nós fomos, vós fondes, eles fõem.

Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.



Esta crónica foi publicada no jornal "O Globo" (e em outros jornais) na edição de domingo, 13 de setembro de 1998 e integra o livro "O Conselheiro Come", Ed Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2000, pág. 20.
via
http://acheiporaih.blogspot.com/

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

http://resteadesol.blogspot.com/




Mind Faces. As diferentes faces da saúde mental






Mind Faces. As diferentes faces da saúde mental.
Fórum Gulbenkian de Saúde 2010
Sessão de encerramento

Quinta, 14/10/2010 às 09h30
Aud. 2
Entrada livre

Transmissão directa online:

http://live.fccn.pt/fcg/


9h30 - Luta contra o estigma e protecção dos direitos humanos das pessoas com doença mental
Conferência:
Norman Sartorius, Association for the Improvement of Mental Health Programmes, Switzerland
Comentário:
José António Pinto Ribeiro, Fórum Justiça e Liberdades
Teresa Pizarro Beleza, Faculdade de Direito, UNL
Moderação: Manuel Braga da Cruz

11h30 - Formação de profissionais de saúde mental
Conferência:
Pedro Ruiz, University of Miami, EUA
Comentário:
José Luis Ayuso-Mateos, Universidad Autónoma de Madrid, Espanha
Miguel Xavier, Faculdade de Ciências Médicas, UNL
Moderação: Jaime Milheiro

14h30 - Melhorar os serviços de saúde mental - O que falta fazer?
Conferências:
J. M. Caldas de Almeida, Faculdade de Ciências Médicas, UNL
Vikram Patel, Sangath Centre, Índia
Comentário:
Jorge Simões, Universidade de Aveiro

16h15 - Encerramento do Fórum Gulbenkian de Saúde 2010
Isabel Mota, Administradora da Fundação Calouste Gulbenkian

16h30 - Angústia, Histeria e Perversão na História da Ópera: Heróis e Vilões em estados alterados
Rui Vieira Nery
via
http://www.gulbenkian.pt/article984cal___eventoslangId1.html
http://live.fccn.pt/fcg/

RTP - JORNAL DA TARDE

RTP - JORNAL DA TARDE

OUTONO

SURF

Tiago Pires





Eça de Queirós


Os Maias

A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono
de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de
Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete,
ou simplesmente o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de
vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas,
com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro
andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira
do telhado, tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica que
competia a uma edificação do reinado da senhora D. Maria I: com
uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio
de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha decerto de um revestimento
quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do
Escudo de Armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando
um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam
letras e números de uma data.



Longos anos o Ramalhete permanecera desabitado, com teias
de aranha pelas grades dos postigos térreos, e cobrindo-se de tons
de ruína. Em 1858, Monsenhor Buccarini, Núncio de Sua Santidade,
visitara-o com ideia de instalar lá a Nunciatura, seduzido
pela gravidade clerical do edifício e pela paz dormente do bairro: e
o interior do casarão agradara-lhe também, com a sua disposição
apalaçada, os tectos apainelados, as paredes cobertas de frescos
onde já desmaiavam as rosas das grinaldas e as faces dos Cupidinhos.(...)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

"A fotografia na arte, conexões e ambiguidades"

"the outside world must not come in, so windows are usually sealed off. Walls are painted white. The ceiling becomes the source of light... The art is free, as the saying used to go, 'to take on its own life' " - Brian O'Doherty

"O mundo lá fora não deve entrar, pois as janelas são geralmente fechadas. As paredes são pintadas de branco. O limite passa a ser a fonte de luz ... A arte é livre, como diz o ditado costumava ir, para assumir a sua própria vida '"- Brian O'Doherty

"a Fotografia pode ser efectivamente uma arte, quando nela já não há loucura, quando o seu noema é esquecido e, portanto, a sua essência já não age sobre mim" - Roland Barthes

"that is what I mean by the end of art. I mean the end of a certain narrative which has unfolded in art history over the centuries, and which has reached its end in a certain freedom from conflicts of the kind inescapable in the Age of Manifestos" - Arthur C. Danto

"É isso que eu quero dizer com o fim da arte. Refiro-me ao fim de uma determinada narrativa, que se tem desdobrado em história da arte ao longo dos séculos, e que chegou a seu fim em uma certa liberdade de conflitos do tipo inevitável na era da Manifestos "- Arthur C. Danto

"but there is also the time of becoming, the upsurge of time that Deleuze has defined as dividing each present into past and future; this is the time of the virtual, of the event and the incorporeal" - Dorothea Olkowski

"Mas há também o momento de tornar-se, o aumento do tempo que Deleuze define como dividir cada presente em passado e futuro, este é o tempo do virtual, do evento e incorpóreo" - Dorothea Olkowski

"o importante da fotografia e da sua manipulação não é que capte a realidade, mas sim que seja um instrumento interessante de reflexão sobre a vida, o tempo, a emoção ou a sociedade" - Enter: Arte 2


"... e por fim, impelido por uma impaciência nervosa, aí partia, sem ter feito mais que desonrar os bigodes brancos dum general heróico, e ter recebido pedradas pela orelha numa vila dos confins da Mongólia." Eça de Queiroz - O Mandarim


"No nosso conhecimento dos outros, temos obrigatoriamente de interpretar pistas, como os detectives e arqueólogos que chegam ao todo reunindo fragmentos, que conseguem descobrir a origem de um crime a partir de um pano de louça e um espremedor de citrinos, ou a origem de uma civilização a partir de uma enxada e um brinco." Alain de Botton - Ensaios de Amor

"Uma vez experimentei tomar uma decisão, sem de facto a tomar. Fingi que tinha decidido e depois esperei para ver no que dava. Esperei muito. Até escrevi num papel para não me esquecer. Passados alguns meses, milhares de outras coisas aconteceram e provaram que a minha escolha fora errada. Aprendi a lição. O tempo estragava quase sempre as decisões que se tomavam sem ele." Ricardo Adolfo - Depois de morrer aconteceram-me muitas coisas

"Este é o texto em que descrevo alguns momentos importantes da minha vida tal como teriam sido se me tivessem caído todos os dentes." José Luís Peixoto - Hoje Não

"The purpose of art, according to this movement, is analytic, and as such, art is in the business of creating and transmitting ideas. Artists are authors of meaning rather than skilled craftsmen, since it is the idea, and not the art object, that is at the heart of artistic experience." Peter Goldie & Elisabeth Schellekens - Philosophy & Conceptual Art

"A finalidade da arte, de acordo com este movimento, é analítica e, como tal, a arte está no negócio de criação e transmissão de idéias. Artistas são autores de significado, em vez de artesãos, uma vez que é a ideia, e não o objecto de arte , que está no cerne da experiência artística. " Peter Goldie & Elisabeth Schellekens - Filosofia e Arte Conceitual


"Digamos que a fotografia pareceu a muitos artistas a forma mais adequada de responder a uma crise com que se confrontaram nos anos 70, crise relacionada com uma corrente de pensamento muito influente à época, em grande parte representada por Jacques Derrida, e que foi cunhada como pós-estruturalismo. Simplificando bastante, pode afirmar-se que neste período se fizeram ranger dois dos paradigmas estéticos que até aí funcionavam sem atritos: autoria e originalidade." Fotografia na arte - editor Ricardo Nicolau / Serralve;">http://3216684189611610804-a-1802744773732722657-s-sites.googlegroups.com/site/jorgecardosoartesite/home/3-expos/DSC_1820zza.jpg?attachauth=ANoY7cqutdkNrl7Hd5WMuEYHgk5xzfiuIBPmQ17T0WN6kHoSSr8zSUeBWxwPXx4IIJqCq3ysHMG9h1Psi7wcDequF8sPT2Bfs2kbB6INqn4sIfMKNUEdAwt5N-a4QZ2DSoeYmMlo4TsDRyygKH5C7rvg_azuO6PtnOGreMC6-1LDyDiqpwskKxJqoN3-vv3MJTtS2K9RcJY97UCmdsQSTkBNkwvg9mCnQiImYqEZNfaPkI1CdaMZgNE%3D&attredirects=0

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notícias:



http://www.cm-pontedelima.pt/evento.php?id=262


http://presspoint.pt/noticias/?p=5199




http://zildacardoso.blogs.sapo.pt/61308.html


http://laurindaalves.blogs.sapo.pt/283146.html




http://sites.google.com/site/jorgecardosoartesite/home/3-expos




http://www.photoblog.com/Cabecilha/2009/11/24/sold---but-now-ill-miss-it.html#comments


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http://www.photoblog.com/Cabecilha/2009/10/09/expo--vantag-collective-first-party-with-brand-new-videos.html


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http://www.photoblog.com/flipado/2009/10/26/vantag-gallery-exhibition.html


http://www.photoblog.com/flipado/2009/10/09/exhibition-vantag-collective-first-party-now-with-more-videos.html




http://www.photoblog.com/bluelizardgroup/2009/10/03


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http://www.woophy.com/member/Cabecilha/blog/2205







via


http://sites.google.com/site/jorgecardosoartesite/

segunda-feira, 11 de outubro de 2010



Botelha - Fonte Grande

Pintura



Agroal - Portugal


Alexandre de Magalhães Pereira Pinto nasceu na cidade de Lamego em 1953 e reside na região de Mafra desde 1977. Autodidacta, começou a pintar em 1995. Em 2004 dedica-se em exclusivo à pintura, elegendo a espátula como utensílio principal para, de forma inovadora, aplicar a técnica do óleo sore a tela.
Quase sempre figurativo, privilegia as pessoas e as paisagens de Portugal na sua pintura. Tem participado em inúmeras exposições individuais e colectivas, contando com obras suas em colecções particulares nacionais e estrangeiras.