sábado, 6 de novembro de 2010

Tornar ao estado de graça



O homem do Renascimento

"Pediram-me para falar do Homem do Renascimento. É um assunto enorme, se pensarmos que houve distintos Renascimentos e vários Homens Renascentistas gigantescos na história da cultura ocidental. E se pensarmos também no homem de qualquer renascimento.
O que posso dizer é que prefiro, preferimos agora na Europa, um renascimento inteiramente novo, depois de mais uma idade média que não acaba de passar. Porém, é desejável que, ao menos na política (ou talvez deva ser em tudo menos na política), surja um génio capar de resolver os problemas particularmente difíceis que inventámos e temos neste momento para despachar.
Podemos considerar que, se o homem não é o centro do Universo, é pelo menos o centro do que lhe interessa conhecer. Daremos relevo ao homem do renascimento nesse sentido.
E não queremos um homem, mas o homem.
Que seja o que acredita na própria inteligência e capacidade para resolver os problemas que surgem num campo do saber. Ou em vários. Depois de delimitar os saberes.
Todos conhecem o modelo que foi Leonardo da Vinci, génio pintor, génio escultor, génio engenheiro, génio inventor… Não sei se sabia muito de política ou se queria saber, calculo que se quisesse saberia porque se empenhava, investigava seriamente. Reflectia e discernia. Planeava e experimentava. É fácil supor que fazia um BOM orçamento. Até que pegava nos instrumentos e no material e realizava a obra, com perspectiva.
No que nos diz respeito, a nós portugueses, não queremos saber de mulheres e de homens apreensivos ansiosos inquietos a respeito de tantos temas de grande importância para todos nós. Comovem-nos. Mas não é disso que carecemos. Disso, dos comentadores medievais. Não era o que os tais faziam? Comentavam o comentário do comentário do comentário, sem fim. Sem outro fim. Apesar da sua erudição, nunca chegavam a conclusões que interessassem o comum dos mortais. No quotidiano do mundo.
Estamos a ver isso de novo, e não queremos. Sinto-me a viver a mesma Idade dos comentadores mais ou menos subtis. O pior é que este género de coisas tende a prolongar-se indefinidamente. Da outra vez, durou onze séculos. Vamos ainda neste tempo obstinar-nos no prolongamento da nossa alma medieval?
Mas não são apenas os comentadores e o seu fervor o que nos apoquenta. São as disputas, a argumentação dos políticos nos parlamentos, dos que aprenderam com as disputas a argumentar. É que possivelmente foram quem ditou os textos sábios, e não acertam os seus discursos com a realidade em que vivemos.
O que queremos é saber de que modo podemos intervir para resolver, tal como faziam os do Renascimento munidos de novo espírito empreendedor e científico.
As mulheres e os homens novos estão aqui. Estiveram sempre aqui.
Vamos entrar agora não de roldão. Mas com ideias e projectos inteligentes e vontade de os realizar sensata e seriamente. Já."
via
http://zildacardoso.blogs.sapo.pt/

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