Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, Diário XIII
Adolfo Correia da Rocha nasceu em S. Martinho de Anta, concelho de Sabrosa (Vila Real), a 12 de Agosto de 1907 e faleceu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995.
Adopta o pseudónimo de Miguel Torga porque “eu sou quem sou. Torga é uma planta transmontana, urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras, rígidas…”
Em Miguel Torga sente-se a procura incansável e o desejo profundo de nos encontrarmos. O Poeta sabe que “O Encontro” é a maior das Riquezas que o homem pode desejar mas, ao mesmo tempo, um tesouro difícil de alcançar, um tesouro soterrado por ilusões, aparências, máscaras, medos, vergonhas. E, por isso, “cava, lava e peneira” de forma a libertar-se de tudo o que não nos permite sermos nós, plenamente.
Foram vários os caminhos, os encontros e desencontros que o poeta viveu. No entanto, esta procura da verdadeira liberdade foi uma constante que marcou toda a sua vida e obra. “De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo” (Diário, Coimbra, 9 de Dezembro de 1993)
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