O nosso caminho não é de relva suave, é um trilho de montanha pejado de muitas pedras. Mas segue em frente, para cima, rumo ao Sol. E encontrarás a serenidade. Ruth Westheimer
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Eça de Queirós
Os Maias
A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono
de 1875, era conhecida na vizinhança da Rua de S. Francisco de
Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela Casa do Ramalhete,
ou simplesmente o Ramalhete. Apesar deste fresco nome de
vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas,
com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro
andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira
do telhado, tinha o aspecto tristonho de residência eclesiástica que
competia a uma edificação do reinado da senhora D. Maria I: com
uma sineta e com uma cruz no topo, assemelhar-se-ia a um colégio
de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha decerto de um revestimento
quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do
Escudo de Armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando
um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam
letras e números de uma data.
Longos anos o Ramalhete permanecera desabitado, com teias
de aranha pelas grades dos postigos térreos, e cobrindo-se de tons
de ruína. Em 1858, Monsenhor Buccarini, Núncio de Sua Santidade,
visitara-o com ideia de instalar lá a Nunciatura, seduzido
pela gravidade clerical do edifício e pela paz dormente do bairro: e
o interior do casarão agradara-lhe também, com a sua disposição
apalaçada, os tectos apainelados, as paredes cobertas de frescos
onde já desmaiavam as rosas das grinaldas e as faces dos Cupidinhos.(...)
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