quinta-feira, 7 de outubro de 2010

LIVROS, BIBLIOTECAS

"Reconheço a minha compulsão pelos livros. Acontece-me muitas vezes comprar alguns aparentemente ao acaso.
Um pouco como uma maçã que exposta em qualquer dos múltiplos lugares de fruta, nos prende a atenção pelo seu brilho e cor, pela textura que sugere, pelo cheiro que exala e pelo sabor que promete, os livros chamam-me a atenção e pedem-me que, da mesma forma, os olhe, lhes toque, pegue e, seja pelo título, pela sinopse, ou quem sabe, pela textura e pelo cheiro que exalam também, não lhes resisto.
É uma perdição manusear livros. Tê-los e deixá-los ficar por instantes mais ou menos longos nas mãos, sob um olhar mais cuidadoso, num momento inesperado de curiosidade e vontade de os levar para ler…
Assim me acontece muitas vezes.
Das prateleiras dos múltiplos lugares que vendem livros, às vezes alguns parecem querer falar comigo. Pego-lhes… e, por vezes completamente desconhecidos, se me dizem qualquer coisa, confesso que os pago e trago comigo, para escutá-los mais tarde com toda a tenção que me despertem.
Assim, malgrado o preço e as contenções a que devemos estar cada vez mais atentos, lá vai mais um. Uma dentada em prol do conhecimento e do prazer. Mais um pecado, pouco original, porque afinal, embora se diga que poucos lêem, não serei a primeira nem a última a cometê-lo.
Aconteceu-me isso, esta semana.
De um canto do lugar onde compro algumas revistas e jornais chamou-me a atenção um livro esguio… “CRISES”… “O lado positivo das crises”, de Christiane Singer… Não conhecia autora nem livro. Temi que fosse mais um desses livros de “auto-ajuda”!… Não que tenha alguma coisa contra esse tipo de livros, se promoverem a leitura, não estiverem incorrectamente escritos e não induzirem quem os lê a dispensar outras ajudas caso necessitem, sem o saber! Mas não é o tipo de livro que compre só por apelo de prateleira.
Como profissionalmente abordo com frequência o tema das “Crises”, nomeadamente as crises situacionais, peguei-lhe da forma que já descrevi e trouxe-o para casa. De casa, apesar da pilha de espera, arrumei-o no saco do fim-de-semana dando-lhe prioridade sobre outros que não se melindrarão pela escolha. Vantagem dos livros.
Curiosa, hoje de manhã li o prólogo e o primeiro capítulo. E enquanto lia, ia dando conta de que, mais do que aliviada por não ter resvalado em vão neste meu vício compulsivo que preciso controlar no obrigatório aperto do cinto, respirava de entusiasmo e agradável empatia.
Ah que prazer este que dificilmente se descreve… ah, este encontro com as ideias, este mergulho nas palavras que se parecem esfumar no sentido que transmitem, na direcção que apontam, na presença humana que têm e ao mesmo tempo as transcende. Ah esse sentirmo-nos catapultados para lá do que poderíamos esperar, para tão longe e tão mais perto de nós e dos outros… que mistério fantástico que nos apaixona e serena…
Caramba, não era um livro de poesia, nem provavelmente uma obra literária daquelas que nos conduz a outra dimensão, que nos transporta e exalta… e no entanto, sem pretensas avaliações fez-me sentir tamanho entusiasmo e alegria que fiquei presa e “garrei” do local onde estava sentada para a dimensão interior que me dizia entender aquelas mesmas palavras.
Caramba (outra vez e com mais força)… e é só mais um livro que estou só a iniciar e provavelmente não chega aos calcanhares de tantos outros que já li e me extasiaram…
Interessa avaliar? Interessa comparar, hierarquizar, catalogar – “melhor”, “pior”?… Quem sou eu que conhecimentos e que fundamentação tenho para fazê-lo? E se tivesse, que direito?
Há livros para todos os momentos e, como diz o Rui Zink, é bom que se leia de tudo um pouco… desde a lista telefónica (espero que não a eito, por favor), à receita de culinária… e acrescento que uma receita pode ser altamente sugestiva e dar um prazer enorme ler, se propositadamente a trabalharmos para esse fim.

Falo de compulsão… e de livros. Essa curiosa e estranha forma de comunicação que preciso. Esta porta fantástica para a aprendizagem… para a reflexão… para o exercício das ideias, do pensamento, da comunicação.
Se não houvesse quem expressasse experiências, sentimentos, emoções… quem não procurasse e encontrasse diferentes formas de transmitir o comum e o incomum que há em cada um de nós, ficaríamos por certo, muito mais pobres.
Que seria de nós sem livros?
Bendita compulsão!"

via
http://inescrever.wordpress.com/




Irremediavelmente longe
procuro identidade

mais que um nome,
mais que prole
de antepassados que não conheço
ou nada me dizem,

procuro identidade

a alma
para além do nome.

Isabel Maia Jácome

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